Um pouco de história
As migrações das aves sempre despertaram curiosidade e encanto aos humanos e os grous em particular atraem a nossa atenção em virtude de serem umas aves extremamente elegantes e ruidosas, símbolo de liberdade, sabedoria e beleza. Como escreveu João Rubus no seu conto fabuloso intitulado A menina dos Grous – “… os grous são do tamanho dos homens mas muito mais inteligentes”, queria o autor fazer referência à capacidade que estas aves têm em atravessar fronteiras sem a sua presença gerar conflitos.
Ao longo da década dos anos 80, do século passado, regista-se um pouco por toda a Europa o interesse em saber quais os efectivos que passavam o Inverno em países do Sul da Europa e Norte de África. Também em Portugal um grupo de jovens adolescentes organizados num género de associação informal, auto intitulados VCNP – que significa Vamos Conhecer a Natureza de Perto – iniciaram esta aventura de procurar todas as áreas de invernia de grous em Portugal.
Este grupo de sete jovens (Carlos Miguel Cruz Kau, João Luís Almeida Joni, Francisco O. Fragoso, António Rui Laranjeira, João Carlos Meireles, Henrique Velez e Vasco Rasga) em 1984 iniciaram com a preciosa ajuda do presidente do município de Évora, Abílio Fernandes, a prospecção das áreas junto à raia, desde Castelo Branco a Castro Marim. Daqui surgiu o primeiro esboço de áreas de invernia e estimativas de efectivos populacionais de grous que visitavam o nosso país. De realçar também o importante contributo de um funcionário da Direcção Regional de Ambiente – Elias Candeias – que sempre que oportuno nos levava nas suas missões de campo onde aproveitávamos para realizar questionários à população rural do Alentejo em busca de conhecimentos sobre os grous que nos visitam ano após ano.
Foto © Henrique Velez
Como devem imaginar o número de protagonistas ao longo destes 40 Invernos foi engrossando e à medida que formos desenvolvendo este sítio na internet iremos procurar fazer referência a todos os que participaram individualmente e todas as instituições que formal ou informalmente representam.
Nos anos 80, já existia em Portugal o CEMPA – Centro de Estudos e Migração e Protecção de Aves, e inspirados nas actividades desta entidade o VCNP foi rebatizado como CEAI – Centro de Estudos da Avifauna Ibérica, cuja formalização legal aconteceu em 4 de Junho de 1991 e durou até 2017. O CEAI e a delegação do Alentejo da LPN – Liga para a Protecção da Natureza organizaram a esmagadora maioria das actividades de censos/contagens de grous nas áreas tradicionais de invernia destas aves no Alentejo. Tanto o Rogério Cangarato, pelo CEAI, como o Carlos M. Cruz, pela LPN Alentejo garantiram a organização e a lógica de financiamento para levar a efeito as contagens anuais.
Destacam-se pela sua participação ao nível de organização dos censos por regiões o precioso empenho da Rita Alcazar, do Rui Constantino, do Pedro Rocha, da Raquel Ventura, do Jorge Safara, do Luís Venâncio, do João Paulo Silva, do Carlos Carrapato, do Hugo Lousa e do Nuno Guégués.
A invernia de grous em Portugal é desde há muito referida por alguns clássicos da Ornitologia do nosso país. Tait (1924), Paulino d’Oliveira 1930), Reis Junior (1931), Barros e Cunha et al (1933-35), referem regiões dos distritos de Évora e Beja como importantes para os grous. Na verdade, não são conhecidas fora desta região áreas onde os grous passem o período de Inverno.
Fernandez-Cruz (1981) apresenta estimativas para Portugal, baseadas em observações de Márcia Pinto, Luís F. Matos que indicavam a ocorrência de 1200 aves.
Cruz, em 1986 publica a primeira comunicação sobre a importância dos montados de azinho na conservação dos grous em Portugal, estima com base em censos a população em cerca de 2000-2200 grous.
Em 1992 um importante documento de autoria de Julia Almeida, apresenta resultados entre 1988-1992 sobre flutuações entre áreas de invernia e total de grous censados cujo máximo obtido foram cerca de 3000 aves.
Portanto, a partir de meados dos anos 80 e de forma sistemática fomos contabilizando os efectivos populacionais de grous que visitam o nosso país e pretendemos com este portal dar a conhecer de forma mais acessível não só os resultados dos censos mas também a problemática da conservação desta espécie no nosso país.
Referir também que para além das pessoas envolvidas, houve ao longo destes anos todos importantes contributos de instituições. Para além do CEAI e LPN Alentejo há que referir o ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, Agência Portuguesa do Ambiente, Direcção Geral da Educação, SPEA – Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, GEDA – Grupo de Ecologia e Desportos de Aventura, Herdade da Contenda, …
É oportuno também destacar, a estreita colaboração com a associação espanhola Grus Extrematura, representada pelo coordenador nacional de Espanha, José Roman, com o qual articulamos as datas e as equipas junto à fronteira para evitar duplicação de contagens de grous. Sendo a partir do Inverno de 2013/14 denominado de Contagem Ibérica de Grous.
Actualizado a 23 de Dezembro de 2024